Sobre o comando de Pedro Álvares Cabral, estava a maior frota naval jamais vista: 1.200 homens embarcados em treze navios, sendo nove naus bem armadas, três caravelas e uma embarcação com cargas e comidas. Sob sigilo, a expedição de Cabral tinha como missão encontrar metais valiosos como ouro, a prata e o bronze.
Nos primeiros anos de ocupação da América portuguesa, sua exploração e ocupação não alcançaram muito sucesso. Na época, as riquezas do oriente dominavam as atenções de Portugal e o governo em Lisboa só resolveu se interessar realmente pelo Brasil a partir da década de 1530, quando piratas e exploradores europeus já cobiçavam a valiosa colônia tropical rica em pau-brasil.
Temeroso em perder as novas terras para os aventureiros, o rei dom João III tratou de anunciar em 1532 a divisão do Brasil em 15 generosas faixas de terras. No entanto construir aldeias, povoar e plantar exigia ferramentas apropriadas, mas ainda indisponíveis na colônia.
À frente da primeira expedição de colonização das terras brasileiras, o militar português Martim Afonso de Souza desembarcou em São Vicente, no litoral de São Paulo, acompanhado do mestre Bartolomeu Fernandes. Ferreiro contratado por Portugal para um período de dois anos, Bartolomeu Fernandes estava incumbido de prover a colônia com enxadas, cunhas, facões, machados, anzóis, cravos e todo tipo de ferramentas necessárias ao trabalho rural e á montagem dos primeiros engenhos de açúcar. Auxiliado por meia dúzia de operários e utilizando quase meia tonelada de carvão vegetal, ele conseguia produzir 100 quilos de ferro em um dia de trabalho - a meteria-prima até então vinha embarcada da Europa.
O período de contrato venceu, mas o ferreiro não conseguia retornar a Portugal nunca mais. Com o passar dos anos, tornou-se um sujeito com olhar sempre distante no horizonte, passando a maior parte do tempo enfurnado na oficina. Era a maneira que ele encontrara para amenizar as as saudades da terra natal, lembrada a cada partida de uma caravela que se distanciava de São Vicente em direção aos portos lusitanos.
Durante seus últimos anos, Bartolomeu Fernandes era visto com desconfiança pela gente de Santos. Vivia macambúzio, martelando e manejando ferro em brasa no morro do São Bento (hoje um bairro santista), sítio que ele ganhara como reconhecimento aos serviços prestados à colônia. Aos 80 anos, o velho ferreiro dera para dizer aos ventos que estava iniciando uma obre de muita utilidade para a Vila. Mas não revelava para ninguém do que se tratava. À beira da morte, balbuciou que apenas o filho Bartolomeu Fernandes, também um artífice dos metais, sabia do seu segredo.
Uma década após a morte do ferreiro, na calada da noite de 16 de dezembro de 1590, Santos foi invadida por uma horda de piratas em busca de comida, água, jóias e baderna.
Alertada do perigo pelos sinos das igrejas, a Vila despertou assustada e os moradores, sem saber para onde debandar, ouviu os apelos do filho do mestre Bartolomeu pelas ruazinhas empoeiradas:
- Sigam-me! Venham todos!
Clamando pelos seus santos de devoção, o povo em fuga apertou o passo atrás do messias de última hora até dar de cora com o morro de São Bento e a capela de Nossa Senhora do Desterro. Após cruzar matas fechadas e escalar um talude de pedras escorregadias, com a paisagem de Santos já amanhecendo ao longe, Bartolomeu recuou folhagens e pedras para indicar a entrada de uma gruta camuflada.
Aquela ara a obra de seu pai: um caminho secreto que levava até São Vicente, cavado com ferramentas especialmente forjadas para fazer túneis.
O jovem saltou para o interior do buraco e desapareceu na escuridão. Durante anos, a gruta tornou-se um esconderijo e ignorado dos invasores. Mais tarde, a Vila cresceu e Nossa Senhora do Desterro desapareceu para dar lugar ao mosteiro São Bento no século XVII. A época das invasões já não mais assustava os santistas e o velho refúgio perdeu-se para sempre, alimentando, porém, lendas tão emblemáticas quanto o primeiro ferreiro de que se tem notícia no Brasil.
Fonte: http://facacriolla.com.br/
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